Quando o casal de
ambientalistas Miriam Prochnow e Wigold Schaffer, da Associação de Preservação
do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi), em Santa Catarina, foi atacado a tiros
por um caçador em sua propriedade em Atalanta, a fotografia foi a principal arma
que Miriam utilizou contra o criminoso. Ela registrou os momentos de terror que
o casal e a filha viveram sob a mira de uma arma de fogo.
“Fotografar a natureza pode
servir como uma ferramenta essencial para a educação ambiental, mas também uma
arma para denúncias e trazer à luz a necessidade de preservação de áreas em
risco de degradação”, disse a ((o))eco, Gustavo Pedro de Paula, presidente da
AFNATURA, associação de fotógrafos da natureza.
Miriam e Wigold são membros
da AFNATURA e são exemplo da função socioambiental que suas lentes desempenham
no combate ao crime ambiental e no alerta para a preservação de áreas naturais.
Sempre foram muitas as
dificuldades de fotógrafos amantes da natureza conseguirem autorização para
realizarem suas expedições em Unidades de Conservação pelo Brasil e, muitas
vezes, ainda sob risco de ataques como este do casal ambientalista no Sul. Face
a esta realidade de adentrar em áreas de preservação em busca dos melhores
clicks e composições naturais, há cinco anos um grupo de fotógrafos brasileiros
se mobilizou em uma causa coletiva e criaram a AFNATURA.
“Já existia um movimento de
fotógrafos renomados que estavam fotografando há muitos anos com dificuldades
por conta da burocracia de áreas preservadas. A gente tinha que se organizar”,
disse Gustavo Pedro.
Ao completar 5 anos de
criação, a associação -- que tem sede no Rio de Janeiro -- reúne 250 fotógrafos
espalhados pelo Brasil e se lança ao desafio de divulgar ao público a
fotografia de natureza e despertar o interesse pelo registro fotográfico.
Neste último fim de semana,
em 31 de agosto e 1° de setembro, a AFNATURA e a Avistar Brasil promoveram um
evento comum no Jardim Botânico, o AvistarRio. A ocasião reuniu fotógrafos como
Haroldo Palo Jr., da National Geographic que tem trabalhos utilizados por
diversas instituições mundiais de preservação ambiental, além de workshops de
fotografias para o público interessado e atividades de observação de aves.
Muitos fotógrafos de natureza são especializados em aves.
A fotografia de natureza,
explica Gustavo Pedro, tem a especificidade de trabalhar dentro da temática da
conservação dos habitats naturais e desempenha a função de manter o uso
público, direto, sustentável e de fiscalização. "A fotografia de natureza
cria um elo de identidade perdido. Às vezes o público acha que a natureza está
distante, a gente persegue uma foto com o ideal de preservar uma espécie”,
disse.
Em busca da foto
perfeita
Aos 38 anos e com formação
em Direito, Gustavo Pedro atua há 16 anos como fotógrafo e já viajou por todos
os biomas do Brasil em busca da foto perfeita, da melhor composição e da melhor
luz. Mas também esteve atento para a fotografia como instrumento de transformação
e denúncia.
“Entrei para o movimento
ambiental pela fotografia quando fiz uma denúncia para a Feema de avanço de uma
estrada acima da cota 100. Eu estava fazendo uma travessia de bicicleta em
Salinas. Passei a atuar como defensor ambiental contra a expansão
imobiliária em áreas irregulares”, relatou. Após a denúncia, o fato
sensibilizou as autoridades para a criação do Parque
Estadual dos Três Picos. Gustavo Pedro conta que descobriu na Mata
Atlântica o seu bioma. “Ver um pássaro hiper colorido, como o Saíra-Sete-Cores
é fantástico. Me apaixonei”.
Ao longo de suas
expedições, o fotógrafo decidiu criar metas: “só poderia morrer se fotografasse
uma onça pintada na natureza. Consegui. Agora criei outra, a minha próxima meta
é fotografar uma onça preta atravessando um rio com uma lontra na boca na Mata
Atlântica. Gostaria de encontrar na região da ilha do Cardoso, em Cananéia, no
estado de São Paulo”.
Para se encantar com a Mata
Atlântica, Gustavo Pedro teve que ir a biomas distantes como cerrado e pantanal
para ver que bem perto estava o seu objeto de trabalho. Realizou várias
excursões pela Amazônia, como ilha de Marajó, Parque Nacional do Jaú no rio
Negro e para a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá. “Mas reconheci
na Mata Atlântica o meu grande bioma”, disse.
Seus projetos futuros são o
de montar o livro “Brasil Mitos e Lendas”, que percorre o imaginário popular e
resgata mitos e histórias orais através das imagens em ambientes naturais. A
exposição com as primeiras imagens do livro estreia este setembro
no Jardim Botânico, no Rio.
A paisagem natural
Dentro do universo da
fotografia de natureza, a paisagem virou o grande mote para fotógrafos que se
desafiam a registrar momentos deslumbrantes da natureza. É o caso do engenheiro
químico Príamo Melo, de 40 anos, que em uma viagem de estudos na Europa, se
deparou com esta modalidade de fotografia.
Seu plano é de viajar pelos
Parques Nacionais e registrar as belas paisagens. O desafio ainda é conciliar o
hobby com sua vida profissional de professor na COPPE, da Universidade Federal
do Rio de Janeiro.
Esta é uma realidade comum
aos fotógrafos de natureza, muitos têm a fotografia como segunda opção e mantêm
suas carreiras profissionais para garantir seus sustento. Ainda são poucos os
que conseguem fazer da fotografia de paisagem sua principal atividade. Suas
expedições ainda são autofinanciadas e realizadas no período que não tem atividades
acadêmicas.
“Ficava encantado ao ver
montanhas, rios, árvores, lagos fotografados com a luz bonita. Aquilo fazia meu
coração palpitar. Sempre gostei de natureza. Autoditada, comprava revistas de
fotografia. Fui muito influenciado pelos fotógrafos britânicos”, contou Príamo.
Na Europa, seu primeiro
workshop de fotografia de paisagem foi na Inglaterra, em 2008, no Parque
Nacional de Yorkshire Dales.
Assim que retornou ao
Brasil, no ano seguinte estava ávido mas não havia curso no Rio de Janeiro
sobre a temática. Assim, decidiu ele mesmo criar seu próprio curso. Desde 2010,
Príamo já formou 10 turmas, mais de 150 alunos, no Ateliê da Imagem.
Para além dos Parques
Nacionais, sua preferência é registrar os ambientes costeiros do Nordeste. Uma
de suas viagens inesquecíveis foi para Jericoacoara. “Tem bioma costeiro e
cerrado com mangues. Me apaixonei por aquela região”, disse.
Príamo dá dicas para novos
fotógrafos de natureza e de meio ambiente. Segundo ele, é preciso ter uma ideia
clara do que se quer fotografar; dominar a técnica e escolher a luz adequada.
“A fotografia de paisagem é extremamente técnica. A luz é a protagonista da
fotografia e a composição da imagem. Mas precisa de um feeling, da emoção. Esta
é a chance de uma fotografia maravilhosa”.
Fonte: Oeco