O Centro
Regional da Amazônia, do INPE, investiga as causas do desmatamento na Amazônia
através de um sistema de mapeamento inédito no mundo
A
exploração desordenada da maior floresta tropical do planeta tem entre seus
maiores problemas e consequente preocupação o desmatamento, questão monitorada
pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) desde 1988, apoiado pelo
seu Centro Regional da Amazônia (CRA), localizado em Belém. Existe uma dinâmica
de ação de combate ao desflorestamento na Amazônia e a missão dos órgãos
atuantes contra esta prática, a exemplo do INPE, é justamente enfraquecer a
atividade e assim reduzir os índices de desmatamento e suas consequências.
Há os
responsáveis em fazer mapas para identificar os locais onde ocorre
desmatamento; existem aqueles que em posse do mapa vão a o local para conferir
e multar se o desmatamento for criminoso e há também aqueles que estudam para
explicar como se dá tal dinâmica de desflorestamento. Ao INPE, através do
Centro Regional da Amazônia, compete justamente a elaboração dos mapas, através
de interpretação de imagens de satélite; a verificação de onde estão ocorrendo
ações de desmatamento em toda a Amazônia Legal, e também estudar a destinação
dada à terra.
Um dos
projetos desenvolvidos no CRA/INPE, em parceria com a Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária (Embrapa) – por meio de suas unidades em Belém e em
Campinas (SP), é o TerraClass, responsável por qualificar o desflorestamento.
Pasto, agricultura, mineração, floresta secundária: como as áreas desmatadas na
Amazônia estão sendo utilizadas? O mapeamento realizado pelas equipes fornece
dados para que se saiba exatamente a motivação da derrubada de árvores.
Inédito no
mundo, o diferencial do TerraClass está no empenho em qualificar o desmatamento
na Amazônia Legal. O sistema PRODES, maior programa de monitoramento de
florestas do mundo, faz mapeamento do desflorestamento, mas é o TerraClass que
investiga os motivos: houve desmatamento por quê? Até o momento já foram
gerados dados de uso e cobertura da terra para os anos de 2004, 2008, 2010,
2012 e 2014.
As
informações geradas representam um avanço no conhecimento do uso e cobertura da
terra na Amazônia como um todo. O TerraClass utiliza 12 classes temáticas para
mapear o desflorestamento e classificar os tipos de uso e cobertura da terra,
tendo como base a interpretação de imagens de satélites e tecnologias de
geoprocessamento.
De acordo
com o pesquisador do INPE e coordenador do projeto, Dr. Marcos Adami, “merecem
destaque os números relativos à Agricultura, em crescente no Mato Grosso, Pará
e Rondônia, principalmente, e que correspondem a 6% do desflorestamento; à
Pastagem, que compreende 60% do total de áreas desmatadas em toda Amazônia; e a
Vegetação Secundária, classe que representa 23% das áreas mapeadas”.
Para
melhorar a qualidade do trabalho dos responsáveis pelo mapeamento do
desmatamento na Amazônia Legal Brasileira, eles participaram do I Trabalho de
Campo do Projeto TerraClass 2016, que ocorreu entre os dias 22 e 26 de maio, em
Paragominas, na região do nordeste paraense. A proposta foi uniformizar
conceitos e nivelar a capacidade de discriminar as classes do projeto e isso
aplicado a todos os profissionais, visando melhorar a interpretação.
Em
Paragominas é possível se observar com clareza os mais variados tipos de uso do
solo. A região possui grandes extensões de terra voltadas à agricultura,
pastagem, reflorestamento e vegetação secundária.
Daí a
escolha deste local para a realização do trabalho de campo, somada à presença
do Núcleo de Apoio à Pesquisa e Transferência de Tecnologias da Embrapa (NAPT
Belém-Brasília). Aliás, foi no NAPT a primeira parada dos 25 analistas em
geoprocessamento do Projeto. Antes do campo propriamente dito, os profissionais
assistiram à palestra Padrões de uso e cobertura da terra e considerações
físicas sobre a paisagem no município de Paragominas, ministrada pelo
pesquisador do instituto francês CIRAD, Dr. René Poccard-Chapuis. René
desenvolve estudos em parceria com a Embrapa e a Universidade Federal do Pará.
O pesquisador
destacou que o mapeamento do uso do solo na Amazônia Legal gera dados que não
existem no mundo. A oportunidade de se aperfeiçoar o trabalho dos profissionais
é um ganho para fornecer com mais qualidade informações úteis à sociedade.
O objetivo
do campo foi verificar o uso que se tinha nas imagens de 2015 analisadas no
laboratório e comparar com o que se via no presente. Permanece igual?
Transformou-se em quê? O estudo possibilita confirmar ou não, a interpretação
das imagens quando observado em campo, a conhecida “verdade terrestre”.
Pasto com
solo exposto; pasto limpo; pasto sujo; regeneração com pasto; mosaico de
ocupações, e reflorestamento. Essas foram as classes levadas em consideração
durante o trabalho de campo.
“O
reflorestamento às vezes pode ser confundido com a vegetação secundária, pois
dependendo da idade do reflorestamento (geralmente o de eucalipto mais antigo),
o adensamento das copas faz com que o intérprete confunda o padrão das cores na
imagem, porém a diferença se dá pela textura, mais densa e rugosa no caso da
vegetação secundária e lisa, no caso do reflorestamento”, explica a engenheira
florestal e especialista em geoprocessamento do CRA/INPE, Márcia Barros, que
esteve à frente da organização do trabalho de campo.
Os
analistas se dividiram em equipes e cada uma utilizou um GPS, um notebook e uma
câmera digital. O GPS identificava o ponto exato de localização, confirmado na
imagem de 2015 e em seguida se observava em campo, no terreno, no que a área havia
se transformado. Vale destacar que os analistas foram acompanhados durante todo
o trabalho pelo pesquisador René Poccard-Chapuis, convidado pela Embrapa. O
chefe-geral da Embrapa Amazônia Oriental, Adriano Venturieri e o pesquisador
Orlando Watrin também estiveram presentes.
De acordo
com Adriano Venturieri, “o TerraClass tem uma repercussão mundial com a questão
de emissões de gases no Brasil. Não existe no mundo quem faça um trabalho como
esse”, atesta. “O que nós fazemos é o que a gente chama de qualificação do
desflorestamento. Se antes o INPE dizia que tinham sido desflorestados 1.000
km², agora a gente está dizendo que desses 1.000 uma parte é agricultura, uma
parte é pastagem, por exemplo. Então, agora estamos dizendo o que se
transformou após a conversão da floresta”, explica Venturieri, que divide com
os pesquisadores do INPE a coordenação do projeto.
Com o
trabalho realizado, os técnicos puderam inclusive pensar no desmatamento não só
como vegetação em si, mas expandir o olhar, pensar questões de uso do solo,
relevo. O resgate histórico feito pelo pesquisador René Poccard-Chapuis, foi de
fato um dos grandes trunfos. Segundo ele, o TerraClass “se apropria do
conhecimento geográfico e transforma ele em operacional. Os dados gerados são
importantíssimos para discussões atuais, no que diz respeito ao clima, por
exemplo”, ressaltou.
“O campo
foi um aprendizado para que todos melhorem o trabalho de monitoramento. Pudemos
visualizar as classes para entender o que é feito de fato no laboratório”,
disse Márcia Barros.
Participante
do trabalho de Jamille Guimarães, disse que a construção e desenvolvimento do
trabalho mostrou-se relevante para operacionalizar o entendimento do intérprete
durante as etapas de identificação e classificação dos padrões uso e cobertura
da terra na Amazônia Legal mapeados pelo projeto TerraClass, além de capacitar
os profissionais para realizar futuros estudos de campo no que diz respeito a
validação dos padrões.
Extraído de
Portal Eco Debate
Por Júlio
Matos, INPE