Com duas
vacas no quintal de casa e criatividade, o técnico em contabilidade Roseno
Alves de Magalhães, de 61 anos, deixou de comprar botijões de gás e passou a
produzir o gás utilizado para cozinhar alimentos. Essa autonomia começou depois
que ele comprou duas vacas e construiu um biodigestor artesanal para
transformar os dejetos liberados pelos animais em fonte de energia. Sem comprar
gás, ele estima uma economia de R$ 70 por mês, o que equivale a R$ 840 por ano.
Magalhães
vive em uma casa simples, no bairro Aeroporto Velho, em Cruzeiro
do Sul, interior do Acre. No quintal de casa, fica a engenhoca
construída por ele há um ano que faz o aproveitamento do gás metano.
"Produzo
gás de maneira sustentável a partir do esterco de duas vagas paridas que
mantenho em casa. Todo produtor rural tem condição de produzir o gás para uso
em sua residência sem precisar derrubar árvores ou vir até a cidade comprar. O
Brasil tem um dos maiores rebanhos bovinos do mundo. Imagina o quanto de gás
metano que é desperdiçado", afirma.
A caixa do
biodigestor tem capacidade para 500 litros e custou R$ 1,5 mil, o que segundo
ele, compensou. “Deixei de gastar R$ 70 por mês e, em dois anos, tirarei o
valor investido. Mas, este sistema pode ser feito para até três mil litros e
produzir gás para mais de uma casa em comunidades rurais", indica.
Biodigestor sertanejo
Para fabricar o biodigestor, o agricultor buscou orientação de técnicos da
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em Cruzeiro do Sul.
Segundo
Marcelo Klein, supervisor do setor de transferência de tecnologia, antes de
iniciar a fabricação do equipamento foi feita uma busca de modelos que melhor
se adaptavam à realidade do produtor rural.
O modelo
escolhido foi baseado no biodigestor sertanejo. Uma tecnologia da Fundação Dom
Helder Câmara que tem baixo custo de instalação, substituição do gás butano
pelo biogás, redução de emissão de gás metano e carbônico na atmosfera e
produção de adubo orgânico e biofertilizante.
"O
biodigestor sertanejo apresentou maior possibilidade de ser fabricado na
região. Durante o processo de fabricação, foram feitas mudanças como a
utilização de uma caixa de água de 500 litros, ao invés de uma de 3 mil litros.
Isso reduziu a eficiência e a quantidade de gás armazenado. Ainda assim
funcionou e atende a demanda do agricultor, mas o ideal é seguir o modelo
original", salienta.
Além de
produzir biogás, Magalhães também utiliza o esterco para manter uma horta em
seu quintal. "Enquanto nos terrenos da vizinhança tiver capim para
alimentar minhas vaquinhas, vou continuar produzindo meu próprio gás e adubar
minha horta. Vou adquirir um sítio e construir lá o mesmo sistema”, diz.
Como funciona o sistema?
O biodigestor consiste em uma caixa de carga, onde se coloca o esterco
misturado a água, que passa pela fermentação e sofre a digestão anaeróbica
pelas bactérias resultando na produção do biogás (basicamente metano - CH4). O
resultado final dessa fermentação também pode ser utilizado como fertilizante
ao ser jogado diretamente no solo.
Magalhães
demonstra no vídeo como fez a ligação entre o biodigestor e a casa, que fica em
um nível acima da casa. A ligação da mangueira com o cano de PVC que vai até o
fogão é feita com o auxílio de um adaptador e uma braçadeira de cano. A chama
que sai do fogão deve ter cor azul, não ter cheiro e deve apresentar um leve
barulho de maçarico.
Extraído de
G1
Por
Adelcimar Carvalho