A Polícia
Federal, o Ministério Público Federal, a Receita Federal e o Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) deflagraram
hoje (30) a operação Rios Voadores, que tem como objetivo desarticular um
quadrilha especializada em desmatamento e grilagem de terras no Pará.
Entre as práticas cometidas pelo
grupo organizado, que tinha braços também no Mato Grosso, Mato Grosso do Sul,
Santa Catarina e São Paulo, estão fraudes de documentos oficiais e o uso de
“testas de ferro”, que forneciam os seus nomes e informações para o registro de
terras ocupadas ilegalmente. De acordo com a investigação, depois de griladas,
as terras eram destinadas à agropecuária.
Na manhã desta quinta-feira foram
cumpridas 51 medidas judiciais expedidas pela Justiça
Federal de Altamira, sendo 24 prisões preventivas, 9 conduções coercitivas e 18
mandados de busca e apreensão em empresas e residências. As ações ocorreram no
distrito de Castelo dos Sonhos, em Altamira e Novo Progresso, no sudoeste do
Pará, e ainda em SP, SC, MT e MS.
Consta nos
autos que o principal investigado - Antonio José Junqueira Vilela Filho,
conhecido como AJ ou Jotinha - desmatou entre 2012 e 2014 mais de 29 mil
hectares no município de Altamira e foi multado pelo Ibama em R$119 milhões.
Durante o processo de desmatamento, o acusado tinha o cuidado de manter as
árvores de copas mais largas, para evitar a identificação por sistemas de
monitoramento via satélite, ocultando toda a destruição. Segundo a Receita
Federal, o grupo composto de pessoas físicas e jurídicas movimentou mais de R$
1 bilhão entre 2012 e 2015, “grande parte de origem ilícita ou incompatível com
os rendimentos dos titulares das contas”.
Tudo começou quando lideranças do povo
Kayapó da Terra Indígena Menkragnoti, de Altamira, fizeram uma denúncia sobre a
atuação da quadrilha, que mantinha acampamentos estratégicos dentro do
território. Em 2014 eles relataram o caso ao Ibama (Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais), que promoveu a operação Kayapó para
combater o desmatamento no entorno e interior da terra indígena. Guiados pelos
índios, o Ibama encontrou diversos acampamentos e trabalhadores em condições
análogas à escrava, cujos depoimentos possibilitaram a identificação lideranças
da quadrilha.
O nome da operação é uma alusão a um
dos mais importantes serviços ambientais prestados pela Amazônia: o transporte
de água para todo o continente através das nuvens, os chamados Rios Voadores.
As árvores da floresta amazônica bombeiam do solo e transpiram para a atmosfera
cerca de 20 bilhões de toneladas de água por dia, que é transportada pelas
nuvens, até colidir com a Cordilheira dos Andes e cair em forma de chuva no
centro-sul do país.
Operações como a deflagrada hoje são
de extrema importância para combater os crimes que levam à destruição da
floresta Amazônica e para combater os efeitos climáticos decorrentes de sua
destruição. Mas é igualmente importante que aqueles que praticam as infrações
sejam devidamente penalizados, e não fiquem livres, como é o caso de Ezequiel Castanha.
Em fevereiro de 2015, Ezequiel
Castanha, conhecido como o maior desmatador da Amazônia, foi preso na operação
“Castanheira”. Mas não durou muito e, em outubro do mesmo ano, a Justiça
Federal concedeu habeas corpus para que Ezequiel responda ao processo em
liberdade. Ezequiel Castanha é acusado de crimes como grilagem de terra,
desmatamento em terras públicas, furto de madeira, atuação em quadrilha e
lavagem de dinheiro.
“Permitir que criminosos como
Ezequiel e Jotinha fiquem impunes só estimula a continuidade de crimes que
levam à derrubada das florestas. A justiça precisa encarar com mais seriedade o
problema, o desmatamento persiste e a ele estão atrelados casos gravíssimos de
violência no campo, que continuam sem solução”, afirma Cristiane Mazzetti, da
campanha da Amazônia do Greenpeace.
Por isso compromissos que levem ao
fim do desmatamento, tais como a Moratória da Soja e o Compromisso Público da
Pecuária, devem ser fortalecidos e adotados por outros setores produtivos e
governos. Cessar a destruição das florestas é tarefa urgente e
também um desejo da sociedade brasileira, que entregou, em outubro de 2015, uma
Proposta de Lei no Congresso Nacional pedindo o Desmatamento Zero para todas as
florestas do Brasil.
Extraído de
Greenpeace