Um
levantamento inédito feito Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(Embrapa) revela a adoção de mais de 11 mil unidades da fossa séptica
biodigestora no País. Com uma tecnologia simples, desenvolvida por
pesquisadores da Embrapa, e voltada ao saneamento básico rural, a fossa foi
adotada em mais de 250 municípios brasileiros, nas cinco regiões do Brasil,
beneficiando mais de 57 mil pessoas.
O
coordenador do levantamento, e engenheiro civil da Embrapa Instrumentação,
Carlos Renato Marmo, acredita que a população beneficiada é muito maior, “pois
o saneamento básico apresenta impactos não só no campo como também nas cidades,
já que as fontes de água e os mananciais estão na zona rural”, afirma.
Ao
substituir as fossas negras – forma mais rudimentar de fossa, basicamente um
buraco no chão para onde correm os rejeitos das casas, podendo causar
contaminação do solo –, essas tecnologias de saneamento protegem a saúde dos
moradores do campo geralmente não atendidos por redes de esgoto. Do mesmo modo,
elas promovem a proteção ambiental ao evitar que dejetos contaminem solo e
corpos d’água.
De acordo
com um estudo feito pela pesquisadora da Embrapa, Cinthia Cabral da Costa, e
pelo professor da Universidade de São Paulo (USP), Joaquim José Martins
Guilhoto, a construção do sistema de saneamento básico proposto pela Embrapa
poderia reduzir, anualmente, cerca de 250 mortes e 5,5 milhões de infecções
causadas por doenças diarreicas. Eles comprovaram também que a cada R$1,00
investido na adoção dessa tecnologia poderia retornar para a economia R$ 4,69.
A fossa
também tem a vantagem de poder ser integrada a outras tecnologias de saneamento
de fácil instalação: o clorador Embrapa e o jardim filtrante, este destinado ao
tratamento de águas de pias e ralos da casa e do efluente tratado pela própria
fossa séptica.
Municípios
do Sudeste
Segundo o
estudo da Embrapa, a região sudeste concentra o maior número de tecnologias
instaladas: 9.445 ou 88,1% do total. Só os estados do Rio de Janeiro e São
Paulo instalaram, juntos, 7.847, ou seja, 68,3%. São Paulo, com uma população
rural de quase 1,7 milhão de habitantes, é o estado com o maior número de
municípios a adotar o sistema de saneamento básico rural. Dos 645 municípios,
63 instalaram 3.760 unidades da Fossa Séptica Biodigestora.
Mas é o Rio
de Janeiro o estado que, proporcionalmente, mais adotou a Fossa Séptica
Biodigestora. Em 37 municípios, o total instalado foi de 4.087, o que atende a
um pouco mais de 3% dos quase 526.000 habitantes da área rural fluminense. No
município de Cambuci, 58% da população de 3.535 habitantes adotaram a
tecnologia; é o que mais concentra unidades da Fossa Séptica Biodigestora: 409,
seguido por São Francisco do Itabapoana com 309 fossas instaladas.
Como
funciona
A Fossa
Séptica Biodigestora foi desenvolvida pelo médico-veterinário Antonio Pereira
de Novaes, falecido em 2011, e segue os princípios dos biodigestores asiáticos
e das câmaras de fermentação de ruminantes, como os bovinos.
Assim como
no estômago do animal, a tecnologia também é composta de vários tanques de
fermentação, onde o esgoto doméstico (fezes e urina) passam pelo tratamento
anaeróbio [sem oxigênio], tornando-o apto para uso como fertilizante agrícola a
ser aplicado no solo.
A montagem
de um conjunto básico da tecnologia, projetado para uma residência com cinco
moradores, é feita com três caixas d´água de mil litros (fibrocimento, fibra de
vidro, alvenaria, ou outro material que não deforme), tubos, conexões, válvulas
e registros. A tubulação do vaso sanitário é desviada para a Fossa Séptica
Biodigestora.
As caixas
devem ficar semienterradas no solo para que o sistema tenha um isolamento
térmico e, assim, não ocorram grandes variações de temperatura. A quantidade de
caixas deve aumentar proporcionalmente ao número de pessoas na família. Assim,
a ciência conseguiu recriar um ambiente simples, funcional, estético e
sustentável, de custo relativamente acessível.
Extraído de
Portal Eco Debate
Fonte Portal
Brasil