Uma
cooperativa de seringueiros da cidade de Feijó, no estado do Acre, deu
recentemente um grande passo para aliar a produção sustentável com a
conservação da biodiversidade amazônica: após quatro anos produzindo folhas de
borracha coloridas e vulcanizadas do tipo Folha Semi Artefato (FSA), eles
assinaram o seu primeiro contrato de venda desta matéria-prima.
A
articulação, apoiada pelo WWF-Brasil, garante não só a geração de renda para os
seringueiros de Feijó, mas também a produção sustentável da borracha, que é
confeccionada por meio de boas práticas que não agridem a floresta.
A
cooperativa em questão chama-se Cooperativa de Produção e Comercialização de
Produtos Agroextrativistas de Feijó (Cooperafe). Ela representa 43 famílias
extrativistas, seu trabalho ajuda a proteger as florestas acrianas e também
estimula a produção sustentável na agricultura familiar.
Empoderamento
Segundo o
contrato assinado recentemente, os seringueiros se comprometem a fornecer, para
a designer e empreendedora social Flávia Amadeu, 300 quilos de borracha, em
duas remessas: uma a ser entregue em agosto e outra, em dezembro. Eles
receberão, por cada quilo, R$ 24 – sendo que R$ 18 vão direto para os seringueiros
e o restante servirá para o pagamento de impostos e para o custeio da logística
envolvida nesta atividade econômica.
Antes deste
contrato, os seringueiros recebiam encomendas avulsas, que eram intermediadas
pelo WWF-Brasil. Isso não ocorrerá mais: “Um dos objetivos do contrato é
justamente transferir essas responsabilidades para a cooperativa, no sentido de
empoderá-la e fazer com que ela passe a representar, de fato, os seringueiros.
Esse contrato também traz segurança pois garante a venda do produto e a chegada
de rendimentos para as comunidades”, contou a analista de conservação do
WWF-Brasil, Kaline Rossi.
O acordo
comercial possibilitará ainda que a Cooperafe emita notas fiscais e controle,
de forma mais eficiente, os custos do processo produtivo, como os gastos com
insumos, equipamentos, mão-de-obra e logística.
Apoiar e
ajudar
O
presidente da Cooperafe, Antonio José da Conceição, conhecido como “Toinho”,
afirmou que a assinatura do contrato “é uma grande responsabilidade”.
“Representar meus colegas neste tipo de iniciativa é grandioso”, afirmou.
Toinho
disse ainda que a ideia é que a Cooperafe assine outros contratos com outras
instituições. “Vejo que este contrato é uma porta que se abre e que não se
fecha para outras. Quanto mais contratos tivermos, mais a cooperativa vai poder
apoiar os seringueiros e é isso que estamos buscando. Queremos ajudar esses
profissionais a dar uma vida digna para seus familiares, dar a eles todo o
respeito e apoio possíveis”, declarou.
A
compradora da borracha de Feijó é a designer e empreendedora social Flávia
Amadeu. Flávia produz, com aquele material, biojoias – pulseiras, colares e
anéis feitos com borracha amazônica. Ela vende suas peças para diversos países,
entre elas Austrália, Nova Zelândia e Inglaterra.
“Para mim,
a grande vantagem deste contrato é a garantir o fornecimento regular da
matéria-prima. Quero aumentar minha produção, mas para isso preciso ter
garantias de que vou receber determinado volume de borracha. Esse contrato me
dá essa segurança”, afirmou.
Vantagens
Flávia
disse ainda que o contrato reforça o caráter social e sustentável da parceria
entre ela e os extrativistas de Feijó – ela compra borracha de lá há 5 anos.
“Queremos que esses profissionais continuem produzindo borracha da maneira que
eles fazem hoje – de forma responsável, possibilitando a inclusão das mulheres
na cadeia produtiva, respeitando a floresta e alcançando mercados dentro e fora
do Brasil”, disse a designer.
A borracha
produzida pelos extrativistas de Feijó é chamada de borracha FSA (Folha Semi
Artefato). Criada pelo projeto Laboratório de Tecnologia Química da
Universidade de Brasília (Lateq/UnB), a FSA possibilita que os seringueiros
produzam em suas comunidades, num processo simples, fácil e seguro. Por conta
disso, eles vendem um produto de maior valor agregado e podem aumentar seu
lucro, complementando sua renda familiar sem precisar sem empenhar em
atividades que causem desmatamento – como a pecuária, por exemplo.
É possível
saber mais sobre a borracha FSA na publicação “Produção de Borracha FDL e FSA:
Guia de Treinamento", lançada pelo WWF-Brasil em 2015 e que detalha a
criação, as vantagens e os processos de fabricação e venda deste produto.
Extraído de
WWF Brasil