A corrida
pela diminuição global de emissões já está em andamento e se intensificou em
dezembro, durante a COP de Paris, quando 196 países assumiram publicamente o
compromisso de manter o aumento da temperatura global em no máximo 2oC (com esforços para limitar em
1,5o C) em relação aos níveis pré-industriais.
Como forma de contribuir para o processo, a China, terceira maior consumidora
de carne do planeta, anunciou esta semana que pretende cortar 50% de seu
consumo de carne bovina, com o objetivo de reduzir os impactos no clima.
A campanha chinesa, encabeçada por um novo guia de alimentação saudável,
incentiva as pessoas a diminuírem pela metade a carne nas refeições e traz o
ator norte-americano Arnold Schwarzenegger e o diretor James Cameron – além de
especialistas chineses – advogando sobre as vantagens de se diminuir este
consumo.
De acordo com o coordenador do Programa Mudanças Climáticas e Energia do
WWF-Brasil, André Nahur, “o movimento é ousado e muito bem-vindo”.
Nahur cita que cerca de 15% das emissões de gases de efeito estufa no planeta
vêm da pecuária, sendo que a metade é causada somente pela produção de carne
(boi, porco e frango) – e isso sem considerar as emissões do desmatamento
relacionado.
Estudos recentes divulgados pelo jornal The Guardian demonstram que, sem cortes
drásticos nas emissões do setor, em 2050 o setor agropecuário sozinho já seria
responsável pelo equivalente a toda meta prevista para o ano no planeta (o que
deixa de fora transportes, energia e desmatamento). A pecuária de corte seria a
principal fonte destas emissões.
“Diminuir o consumo e o desperdício de carne e de outros alimentos pode
representar, além da redução significativa das emissões de CO2equivalente do setor, uma menor
demanda por conversão de novas áreas e, possivelmente, maior disponibilidade de
grandes áreas para ações de conservação da natureza”, diz Nahur.
A China ocupa atualmente a terceira posição no ranking de importadores de carne bovina do Brasil, segundo dados do
Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. De janeiro a
abril deste ano, a potência asiática investiu US$213 milhões na compra de carne in natura. Hong Kong, região que
pertence à China, voltou a ser a porta de entrada da carne brasileira na Ásia,
ocupando a primeira posição, com investimentos na ordem de US$280 milhões.
Oportunidades
para produção de baixo carbono
A discussão sobre o consumo, o desperdício de alimentos e os modelos produtivos
vão, cada vez mais, fazer parte do nosso futuro. Essa discussão será chave no
contexto de crescimento populacional e necessidade de conter o aquecimento
global e a preservação serviços ecossistêmicos, como explica o coordenador do
Programa Agricultura e Meio Ambiente do WWF-Brasil, Edegar Rosa.
De acordo com ele, o Brasil tem uma oportunidade ímpar de mostrar ao mundo como
é possível conciliar a expansão da produção de alimentos com a preservação dos
recursos ambientais.
Nosso país ainda mantém 60% da sua área coberta com vegetação natural e é um
dos maiores produtores de alimento do mundo. Intensificar a produção de forma
sustentável (em um contexto de agricultura de baixo carbono), recuperando áreas
degradadas e excluindo a conversão de ecossistemas naturais da produção de
commodities, é uma estratégia possível para o Brasil atender a expectativa em
relação à produção de alimento para o mundo e, ao mesmo tempo, promover uma
economia de baixo carbono a partir da produção agropecuária.
Segundo Edegar, mudar hábitos alimentares será cada vez mais importante, mas
também precisamos pensar na forma que produzimos. “A enorme população chinesa é
sempre vista como um dos desafios para a produção de alimentos e esse mercado
tem uma fatia significativa não só da exportação de carne brasileira, mas
também de soja e outras commodities. Porém, este recente posicionamento chinês
pode ser um incentivo para buscar alternativas para uma produção mais
sustentável, com menos emissões e melhor uso do solo”, explica.
Extraído de
WWF Brasil
Por Bruna M.
Cenço e Maria Fernanda Maia