Muitos
pesquisadores afirmam que atualmente as intervenções humanas e seus impactos
são comparáveis aos efeitos de uma era geológica e que a partir especialmente
da Segunda Revolução Industrial, justifica-se a determinação de um novo
período, o holoceno ou tecnógeno, caracterizado pela não existência de espaços
sem interferência humana, mesmo quando se tratam de locais preservados,
caracterizados como uma “concessão” das atividades antrópicas.
Uma das
características marcantes das ações humanas no planeta é a emissão de luzes
artificiais, com mais intensidade proporcional ao desenvolvimento industrial e
por isso mesmo em expansão infinita, posto que a industrialização seja o modelo
de desenvolvimento humano e econômico dominante. As fontes emissoras são em geral
alimentadas por combustíveis não renováveis, energia nuclear, termoelétricas e
hidrelétricas. Em pequena escala são utilizadas fontes renováveis como solar
fotovoltaica, eólica, biomassa e outras que ainda não são economicamente e
tecnicamente viáveis em um sistema de produção maciça de bens de consumo em um
só sentido de uso e desperdício da energia, sem as características cíclicas da
matéria presentes nos sistemas naturais.
O resultado
desta produção e consumo linear da energia são os resíduos, desde os nucleares,
particulados, industriais, pós consumo, até as sobras de alimentos das
refeições diárias. E poluição luminosa. Desde o excesso local, mau planejamento
do dimensionamento e distribuição dos pontos, uso errôneo de lâmpadas e
luminárias, incidência de luz direta sobre pessoas, plantas, animais e
produtos, até o sky glow – poluição luminosa caracterizada pelo efeito
brilhante e reflexivo noturno nos espaços aéreos das grandes aglomerações
urbanas. Portanto, o holoceno também se caracteriza pela emissão massiva de
luzes artificiais que interferem nos ecossistemas do planeta, inclusive
naqueles relacionados com os usuários não humanos dos espaços aéreos como
insetos, aves e sementes, com previsíveis impactos negativos sobre a
biodiversidade.
Os impactos
ambientais da poluição luminosa afetam os ciclos migratórios, reprodutivos e
alimentares de muitas espécies de vertebrados e invertebrados, principalmente
causando desorientação aos organismos adaptados aos espaços escuros: os
filhotes das tartarugas são atraídos pelas luzes artificiais nas praias e são
desviados de seu caminho para o oceano; as fêmeas dos vagalumes atraem os
machos a 45 metros de distância e as luzes artificiais reduzem ou mesmo
eliminam a visibilidade, prejudicando a reprodução; os períodos de floração de
plantas são alterados, impactando o balanço natural na produção de pólen,
flores e frutos; há um aumento da atração de insetos vetores de doenças e um
desequilíbrio em suas populações com o aumento destas em áreas antropizadas;
animais selvagens perdem-se e são atropelados nas rodovias e cidades, inclusive
morcegos; aves migratórias e noturnas também são impactadas negativamente pelos
excessos das luzes artificiais.
Na saúde
humana, causa cansaço visual e sonolência, ardência nos olhos, dor de cabeça,
stress e pesquisas indicam uma relação direta entre a poluição luminosa e o
desenvolvimento de alguns tipos de câncer. A diminuição da capacidade de
trabalho e consequentemente da produção é outro efeito econômico e social da
iluminação excessiva. Acidentes de trânsito também são comuns causados pelo
ofuscamento e excessos de luz. Também está comprovado que espaços
excessivamente iluminados não diminuem a criminalidade, dando uma falsa
impressão pessoal de segurança e mesmo facilitando rotas de fuga.
Economicamente, toda iluminação acima da linha do horizonte é energia
completamente desperdiçada. Estima-se um desperdício de 30% da energia
utilizada pelos governos, empresas e consumidores na iluminação externa das
áreas de ocupação humana.
A poluição
luminosa também prejudica as pesquisas em diversas áreas relacionadas com a
observação do espaço, como a astronomia e a astrofísica, que tem a capacidades
dos telescópios e equipamentos prejudicados pelos reflexos e ofuscamentos das
luzes artificiais, mesmo de aglomerados urbanos distantes de onde estão
localizados.
O descarte
incorreto pós uso dos diversos tipos de lâmpadas é outro impacto aumentado
pelos excessos de iluminação. Os elementos utilizados nos componentes como
mercúrio, vanádio, chumbo, cádmio, bário, sódio, antimônio, estrôncio e outros
são altamente tóxicos e apresentam efeitos acumulativos no meio ambiente e nos
organismos.
Apague a
luz, por favor!
Extraído de
Portal Eco Debate
Por Antonio
Silvio Hendges